Dou-te mais uma vez.

O começo de um ano arrumado. Tudo estava no lugar. Meu armário organizado e minha estante também. Minha vida estava caminhando. Eu estava só. Minha companhia era eu mesma, e isso era bom. Isso me bastava. Aí você chegou e bagunçou tudo. Desde o começo foi assim, uma bagunça. Eu sempre soube que era uma bagunça, tanto que uma das músicas que escolhi pra me lembrar de você e resumir o que eu sentia ao te ver tem esse nome: você me bagunça. Eu nunca gostei que tirassem as minhas coisas do lugar. Apesar de não ser a pessoa que mais mantém as coisas em ordem, eu sempre tive um apreço pela organização, de tal forma que me iro facilmente contra quem ousa tirar um dos meus alfinetes de lugar. E aí você chegou... E até que eu comecei a gostar da bagunça que você trouxe. Você é assim, meio bagunçado... O seu teclado sabe disso. A cadeira do seu quarto também. Eu até pensei que fosse passar, e nada. E eu, que me acostumo tão rápido com as coisas - menos com a tua ausência - comecei a me acostumar com a bagunça. E a nossa bagunça parecia tão boa pra mim! Dava pra gente sorrir... E eu segui. Segui entregando a verdade da suposta ordem que existia dentro de mim. Te entreguei meu sorriso.Você dizia que gostava dele e eu nunca fui muito apegada. Sou mais do tipo "gostou? toma". E você levou. Te dei os meus mais ternos olhares... Porque olhar pra você me despertava uma ternura que nem eu sabia que existia em mim. Te entreguei as minhas palavras. A elas, sim, eu sou apegada. Mas não contigo. Te entreguei cada uma delas, as mais profundas, as mais verdadeiras... As que eu guardava pra você, sem saber que você seria o dono delas. Agora elas são suas, não tem mais volta. Preciso encontrar outras. E elas foram com você... Porque foi assim. Você foi. Eu fui. No fundo, eu sempre esperei que isso acontecesse. Eu esperava, mas não dessa forma. E foi... E ainda assim, indo, te dou mais uma vez as minhas palavras e mais uma vez você as leva. Cuida bem delas.